Alternativas para reciclagem de pneus usados - exemplo do Brasil

Em tempos de combate total ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da febre dengue, os pneus abandonados são considerados inimigos públicos número um por acumularem água parada com facilidade. Mas bem antes disso os pneus velhos abandonados em qualquer canto já eram um problema de difícil solução para todas as cidades brasileiras.

Em Campinas, onde 1,5 milhares deles são retirados de lixeiras, terrenos baldios e córregos, todos os meses, outro grande desafio é conter a sua queima criminosa, que acontece principalmente na periferia.
Em chamas o material liberta dióxido de enxofre, um perigoso poluente que ameaça o Meio Ambiente e a saúde pública.
Na tentativa de minimizar o problema a Prefeitura encarrega os funcionários de suas 14 Administrações Regionais (ARs) e mais as quatro subprefeituras a apanharem todos os pneus que forem encontrados.
Nenhum deles é depositado no Aterro Sanitário Delta 1. A montanha de borracha deixa de ser problema para se transformar em solução assim que chega ao Centro de Picotagem do “Grupo Cimentos Portugueses,” em Jundiaí.
A empresa faz parte da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos.
No local, os pneus que antes serviam apenas como criadouro para mosquitos são retalhados, incinerados nas condições de segurança adequadas e transformados em combustível para alimentar a fornalha que produz cimento na empresa. Por hora, passam pelo sistema dois mil pneus ou o equivalente a dez toneladas de material. "As cinzas que sobram da incineração ainda
são aproveitadas na massa que compõe o cimento", lembra José Carlos Arnaldi, assistente da Secretaria Executiva da Anip.

A Prefeitura de Campinas não recebe um centavo pela entrega dos pneus. O que existe é uma troca de favores entre o Poder Público, que se livra de toneladas de lixo que ocupa espaço e polui ferozmente a cidade, e a empresa que recebe grandes quantidades de matéria-prima para a sua produção. "Algumas empresas ainda cobram para receber os pneus", afirma Waldir Bizzo, director do Departamento de Limpeza Urbana (DLU).
Além de combustível, a borracha dos pneus também pode ser reutilizada em tapetes de automóveis e solas de sapatos. Como se não bastasse, o material de grande resistência também é aproveitado para reforçar muros de suporte, encanamentos de córregos ou na drenagem de gases em aterros sanitários. Em Piracicaba, os pneus servem para conter a erosão do solo.
Já em Limeira, o mesmo produto facilita a drenagem de líquidos percolados de aterros.

"Eles são muito úteis, mesmo depois de gastos. Recortando o talão, a parte mais resistente do pneu, podemos fazer até tubulações para água pluvial. Isso acaba trazendo economia para qualquer Prefeitura", confirma Marcelo Alvarenga, gerente da Mazola Comércio, Logística e Reciclagem de Valinhos.

Recolha de pneus

A rede Dpaschoal, em parceria com a fabricante Goodyear, já mantém um processo de recolha de pneus com foco no destino correcto do produto usado e deixado nas mais de 180 lojas espalhadas pelo País. A empresa Midas Elastômeros do Brasil, sediada em Itupeva, recicla anualmente seis milhões de pneus. Com esta iniciativa, o rendimento previsto do grupo para este ano é de R$ 100 milhões.


Estradas

O mesmo pneu velho que incomoda e ameaça a saúde da população nos aterros sanitários e lixeiras também pode garantir uma viagem tranquila pelas estradas do País. Não rodando junto com os veículos, mas fazendo parte da própria via em que eles transitam. Um trecho de dois quilómetros da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que liga o Sul ao Nordeste do Brasil, está utilizando o inédito "asfalto ecológico" e chegando a óptimos resultados. No trecho da estrada que passa pela cidade gaúcha de Guaíba - entre os quilómetros 318 e 320 - cerca de 700 pneus foram derretidos e unidos à massa asfáltica para reforçar toda a estrutura e, de volta, acabar com os insistentes buracos que colocava em risco quem passava pelo local. A iniciativa partiu dos pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Outro trabalho interessante é desenvolvido pela concessionária Ecovia Caminho do Mar, que administra a BR-277, que liga Curitiba (PR) a Paranaguá (PR). Do quilómetro 51 ao 56, toda a estrada será coberta pelo asfalto reforçado com pedaços de pneus.

Além de estradas mais qualificadas para escoar a produção nacional, a matéria-prima retirada dos pneus ainda pode cumprir um imenso papel social. Em bairros carentes, que lutam anos a fio para contar com o mínimo de asfalto nas suas ruas, a alternativa ecológica também se torna viável. Na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, oito ruas do bairro Nosso Senhor do Bonfim já contam com a novidade.

O único ponto negativo sobre o assunto é o encarecimento dos custos, já que a utilização do asfalto ecológico é 20% mais cara do que o método convencional. Apesar disso, o ganho ambiental, da saúde e até mesmo de imagem torna a ideia tentadora para qualquer empresa interessada em ajudar o País.

Responsabilidades

Em Julho de 1999, a Resolução nº 258 do Conselho Nacional do Meio Ambiente estabeleceu que as empresas, fabricantes e importadores de pneus sejam obrigados a comprovar anualmente, junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o destino final ambientalmente adequado das quantidades dos chamados pneus "inservíveis" produzidos ou comercializados.

De acordo com a determinação federal, as fábricas e distribuidoras de pneus tiveram o compromisso de reciclar 25% de sua produção no ano passado. Para este ano, o volume deve ser de 50%. A missão ainda é atingir 100% em 2004. No ano de 2005, a reciclagem deverá superar a produção, com cinco pneus reciclados para cada quatro fabricados.

O Conama ainda proibiu o armazenamento de pneus velhos em grandes espaços, a céu aberto. Mesmo assim, segundo levantamentos técnicos, actualmente existem cerca de 100 milhões de pneus abandonados em aterros, lixeiras, córregos, lagoas e rios do Brasil. A triste realidade serve apenas para oferecer mais riscos ao Meio Ambiente e à saúde pública.

O problema tende a ser ainda pior já que, no mês passado, o governo federal isentou de qualquer multa as importações de pneus "usados" vindos dos países do Mercosul, principalmente da Argentina. Após a decisão, os EUA e a União Europeia mostraram-se interessados em exportar este material para o mercado brasileiro. Com a medida, reprovada por integrantes do próprio PT, o Brasil passará a receber mais de 40 milhões de pneus recauchutados por ano, transformando-se numa lixeira mundial.

Referências:

http://www.resol.com.br/ultimas.asp?id=1832144066 (Fábio Gallacci)

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Inserido em: 2004-01-17 Última actualização: 1999-11-29

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