Freegan Freegan

Freeganismo

Agosto de 2000 em Londres, e nas traseiras de um supermercado, já a noite ia alta, aproximamo-nos dos 4 contentores de lixo. Ao abrir as tampas, o que lá vimos ainda não esqueci.
Não foi lixo que encontrámos mas sim a mesma mercadoria que se vende lá dentro, neste caso a mercadoria que nesse dia não se vendeu e por vários motivos teve que ir para o lixo.
Foi há 10 anos que percebi o que era o freeganismo e as razões para o praticar.


O conceito nasceu algures nos anos 90 tendo como base o não consumo, não apenas por motivos económicos, mas como tomada de posição frente a uma sociedade de consumo que esgota rapidamente os recursos para cobrir a crescente procura de produtos. Aproveitando o que os supermercados eliminam, a palavra freegan nasce da junção de "free" e "vegan". Em Portugal, o freeganismo não terá muitos adeptos, mas o mesmo não se passa no resto da Europa, nomeadamente em Inglaterra.


Produtos recolhidos por freegansPode pensar-se que são eliminados os alimentos fora do prazo. Pois encontrei muitos ainda com um dia ou dois de validade, e alguns com semanas de validade. Embalagens de fruta e legumes em perfeitas condições, tudo perfeitamente acondicionado na maioria das vezes.
Bananas biológicas e de comércio justo, mirtilos a um preço nada acessível, frutas exóticas vindas do outro lado do mundo.
Custos de produção, exploração de recursos, de trabalhadores, embalagens, combustível para transportar esses produtos, tudo isso deitado ao lixo.

Alimentos mas não só, qualquer coisa que por alguma razão (às vezes por muito que pensasse e procurasse não encontrei razão nenhuma...) não esteja em condições de ser vendida.
Encontrei produtos de higiene com a tampa partida, inúmeros outros com a embalagem exterior em cartão rasgada ou amassada (estando o produto em si em perfeitas condições).


Frigorífico cheio de alimentos recolhidosBatatas, cebolas, alhos, cenouras, pão, bananas, maçãs e laranjas são alguns dos alimentos que nunca tive de comprar. Uma das razões pela qual bons produtos são eliminados é a fraca procura dos mesmos por parte do consumidor.


Hoje em dia o espaço é precioso, seja em armazém ou em prateleira. Os supermercados não se podem dar ao luxo de ocupar espaço com produtos que não vendem, cada cm2 tem um custo diário elevado.
Um produto que precise de ser vendido é primeiro colocado à frente dos outros e à altura dos olhos. Depois pode ser mudado de secção, por exemplo para perto da entrada. Se mesmo assim não vender, é preferível descartá-lo e ocupar o espaço liberto com outros que interessem aos clientes, já que quanto mais tempo estiver a ocupar espaço, maior é o prejuízo.
Por vezes algumas empresas optam por doar os excedentes, mas esta medida pesa no seu orçamento, pois ao doar a quem necessita é necessário declarar e pagar imposto ao Estado sobre essa doação. Então mais prático e menos dispendioso, é deitar tudo fora.

Numa sociedade de consumo em que um produto com uma anomalia mínima é deitado fora, se queremos causar o menor impacto possível no ambiente, melhor que o consumo responsável, só mesmo o não consumo. Em Portugal já se podem encontrar alguns movimentos alternativos ao consumo, tais como vários sistemas de boleias partilhadas onde os utilizadores que viajam para o mesmo destino o fazem alternadamente nas viaturas de uns e outros, ou a rede freecycle - http://www.freecycle.org - onde membros anunciam o que já não querem ou o que precisam, e o que já não faz falta a uns pode ser muito valioso para outros.
Estas medidas visam a economia de recursos, a diminuição da produção e consumo, mas em última análise podem muito bem ser uma ajuda em tempos de crise.

 

Referências:
Reportagem no Daily Mail
http://www.dailymail.co.uk/femail/food/article-1211094/The-bin-banquet-How-dish-gourmet-feast-500--cooked-entirely-food-chucked-away-wasteful-supermarkets.html

Documentário "skipping waste" de Lilly Barlow
http://trashwiki.org/en/Skipping_Waste

Vídeo «Os respigadores e a respigadora» Les Glaneurs et la Glaneuse de Agnès Varda
http://www.youtube.com/watch?v=3sGLOTXuDpI&feature=related

Sites de partilha de boleias:
http://www.boleias.com
http://www.deboleia.com
http://www.carpool.com.pt

http://www.euro-covoiturage.com

 



Copyright Centro Vegetariano. Reprodução permitida desde que indicando o endereço: http://www.centrovegetariano.org/Article-544-Freeganismo.html

Inserido em: 2010-05-01 Última actualização: 2010-05-01

Comentar printer     E-mail   Facebook F

Consumidor Vegetariano
Pessoas > Artigos por Autor > Vera Martins
Meio Ambiente > Ambiente e intervenção