Apesar de não acreditar no destino, às vezes sinto que estava destinado a tornar-me vegetariano. Sempre adorei e admirei animais, mas em criança não mordemos a mão que nos alimenta, ou seja, não recusamos a "comida" que nos é colocada no prato, principalmente se a nossa educação não incluir o desenvolvimento de uma consciência ampla ambiental e ecológica. Infelizmente, penso que é isso que se passa na maioria das sociedades actuais, mas, felizmente, é evidente que essa realidade está a mudar, a evoluir e a progredir rumo a um futuro melhor.
No entanto, hoje acredito que não devemos deixar os esforços por mudar a sociedade nas mãos de outros e que devemos fazer a nossa parte e informar as pessoas sobre a existência de alternativas à realidade que conhecem e que por não a questionarem desconhecem. Hoje não perco uma oportunidade para dizer que sou vegetariano e de explicar os meus motivos se me perguntarem porquê (também não quero ter uma abordagem agressiva, pois seria mais prejudicial que benéfica para a causa, visto que as pessoas têm tendência a tornarem-se defensivas e consequentemente fechar as suas mentes a qualquer tipo de argumento que as contrarie).
Tenho 23 anos. Lembro-me de, há alguns anos atrás, discutir num chat online com um(a) vegetariano(a) e tentar justificar o porquê de eu [na altura ainda] consumir carne... Não tinha muitos argumentos (infelizmente a minha oposição também não fez o melhor trabalho no sentido de me informar) mas queria acreditar neles, de certo que para não me sentir mal comigo próprio. Mas lá no fundo eu sabia que estava errado e existia em mim um desejo de ter a coragem e força de vontade para contrariar o estilo de vida e ambiente a que estava habituado e deixar de comer animais. Algum tempo depois estava a passear com os meus 2 melhores amigos e começámos a falar sobre isso. Nessa conversa admiti o meu desejo de me tornar vegetariano e 1 dos meus amigos disse que também gostaria de o ser, mas acreditava ser muito difícil e que não conseguiria. Eu próprio conformei-me com a suposta dificuldade e com a crença de que não conseguiria, pelo menos não sem ajuda ou alguma motivação extra. Por brincadeira (ou não, já não me lembro bem), disse que se tivesse uma namorada vegetariana também me tornaria vegetariano! Dito e feito! OK, não foi bem assim, mas quase. Muito tempo depois conheci uma rapariga que eventualmente se interessou por mim, e eu por ela. Entretanto vim a descobrir que ela tinha vivido 10 anos na Suíça, e que durante os últimos 7 ou 8 tinha recusado o consumo de carne (mas não de peixe). Ela contou-me que quando veio para Portugal tornou-se complicado manter essa recusa quando, num jantar para o qual fora convidada na casa de uma amiga, serviram carne. A partir daí, e durante algum tempo já depois de começarmos a namorar, ainda comíamos carne. Ela contrariada, e eu por hábito. Em casa dela, no entanto, ela recusava-se a comer carne. Começámos a namorar em Julho de 2004, e num dia de Novembro do mesmo ano, consciente do facto de ela consumir carne contrariada e do meu próprio desejo de deixar de o fazer, disse-lhe que a partir daquele dia nunca mais comeria carne. E assim foi. Desde esse dia, nunca mais comi carne. A princípio a minha mãe não gostou muito da ideia mas respeitou e conformou-se, porque continuei a comer peixe. Passado alguns meses, já em 2005, confrontei-a com a minha decisão de deixar de comer peixe (entretanto já tinha descoberto as maravilhas da soja e do seitan!). Finalmente tinha-me tornado vegetariano e não podia estar mais contente! Claro que a minha namorada também fez o mesmo.
Agora também evito os lacticínios e só os consumo em bolos ou produtos de pastelaria que tenham levado leite na sua confecção. Já agora aproveito para dizer que o meu amigo que anos antes tinha dito que achava que não conseguiria tornar-se vegetariano apesar de querer está cada vez mais perto de se tornar um a 100%, principalmente desde que lhe preparei uns pratos de soja e seitan e o informei sobre as variadas alternativas aos pratos de carne! Ele tem evitado a carne e o peixe e disse-me recentemente que já não come carne nem peixe há semanas.
Já contei e divaguei sobre como me tornei vegetariano e não o porquê. Talvez por ser tão óbvio? Há tantos motivos! Talvez tenha sido George Bernard Shaw a dizê-lo da maneira mais simples e directa: "Os animais são meus amigos, e eu não como os meus amigos". Deixei de comer animais porque gosto deles e sei que quando os comia não o fazia por necessidade, mas sim por tradição, ignorância e egoísmo. Se podemos sobreviver e até viver melhor e com mais saúde sem matar animais, não existe justificação para o fazermos. É tão simples como isso. Comer animais é uma atitude e um comportamento destrutivo e auto-destrutivo por muitos motivos. O vegetarianismo transmite uma mensagem positiva, de compaixão, de respeito pela vida e pela Natureza e de consciência social e ambiental. Para concluir, quero apenas dizer que hoje, os Direitos dos Animais são um dos meus maiores interesses, pelo qual tenho muito carinho e que desejo apoiar até ao fim da minha vida. Dizer que seria bom ver mudanças significativas a nível global até lá é um eufemismo.
(Ricardo Petinga é vegetariano há 1 ano e estudante de Design Multimédia)
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Inserido em: 2006-05-06
Última actualização: 1999-11-29
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Vegetarianismo
Acredito na consciencia vegetariana, no sentido de combater a violência. Eu adoro receber artigos e contatos o que se refere aos animais, ainda assistir um video, a carne é fraca, lah ele mostra a violência, de abatimento dos animais, meu. e pura mente horrivel. Como dizem se o abatedouros fossem feito de vidros..
[Por: @ 2006-08-07, 16:47 | Responder | Imprimir ]"Viva a vida com vida, e não viva com a morte"
(Por: Alda Figueiredo)