Re: Belo artigo




Concordo em geral com o que diz, gnanaatman. O que acontece (e caso tenha lido algum destes livros deve perceber o que quero dizer), é que o que pode levar algumas pessoas a sentir a vontade da mudança de hábitos alimentares, não são os argumentos lógicos descritos, mas as imagens que vários relatos documentados nos suscitam.

Por exemplo, eu deixei de comer carne (de um dia para o outro), ao frequentar um workshop de crescimento pessoal e interacção com tudo e todos, onde já se tinha falado sobre o vegetarianismo, noutras vezes, mas naquela altura estava a falar-se de outra coisa (sobre as várias implicações do acto de fumar) e a minha mente e coração (o meu ser inteiro, digamos), na altura, derivou para outra questão ética, esta, a de comermos animais (tipo "não fumo, nunca fumei, mas por outro lado tenho montes de outras atitudes não éticas") e rapidamente me assomaram imagens de vários anos antes em que tinha casado há pouco tempo e os meus sogros da altura, agricultores e que criavam animais para consumo próprio (e praticamente só comiam carne dos seus animais) me pediram para aprender a matar as galinhas, coelhos, etc., a fim de ajudar, o que eu recusei logo, pois fazia-me a maior das impressões; também não conseguia sequer pegar na carne ainda quente para a preparar e cozinhar e metia-a um pouco no frigorífico, sem dar muito nas vistas (pois as pessoas "habituadas a estas práticas" consideram os outros "fracos, "mariquinhas", "não estão preparados para a vida" e coisas que tais (eu tinha 20 anos na altura)); ao me voltarem rapidamente estas imagens naquele dia, percebi que não conseguir fazer isto e no entanto comer carne era uma hipocrisia da minha parte, como se delegasse a outros este trabalho para mim infame e horrível, mas no entanto eu sustentava-o e nunca tinha percebido isso até então. Pronto, nunca mais consegui comer carne, foi um "clique", como se de repente se acendesse um interruptor. Ainda comi peixe durante uns meses e, novamente no meio de um workshop, agora sob o tema "interacção com a Natureza", nos Açores, passando tempos no alto mar a nadar com golfinhos, perdi completamente a vontade de comer peixe e tornei-me vegetariana na altura (há dez anos, e nunca mais toquei num pedaço que fosse de carne ou peixe, à excepção de no Natal desse ano ter experimentado línguas de bacalhau que eu antigamente gostava muito e não ter conseguido passar do experimentar, enrolava-se-me tudo na garganta, soube-me "a palha" e nunca mais tive vontade de voltar a comer nada que fosse bichinho).
Contei por alto esta minha experiência aqui, numa entrevista para o Centro Vegetariano, que está intitulada "Entrevista a Isabel Matos, Mãe Vegetariana".
Quero só salientar que nestes workshops não se fala apenas sobre estes temas, mas sobre muitos outros, fazem-se meditações, exercícios vários, "viagens no tempo", valorizam-se as intuições, e muitas coisas mais.

Por outro lado, nunca tinha pensado no problema de usar produtos que fazem testes em animais e um belo dia a passear na feira vegetariana de Oeiras, estava lá um "stand" da Associação Animal onde passavam continuamente imagens horripilantes dos testes "científicos" que usam o mais variado tipo de animais. Deu-me tal volta, que "pus mãos à obra" na procura de informação sobre os produtos testados e os não testados em animais para deixar de comprar esses produtos. Neste caso, toda a informação disponível através de todas as pessoas que investigam estes assuntos (como os autores do livro em causa também disponibilizam em relação à indústria animal, aos produtos biológicos, aos produtos de comércio justo, etc., etc.) ajuda bastante a algumas pessoas.

Não vejo este tipo de livros como uma tentativa de moralizar ninguém ou de levar alguém pela lógica
a converter-se ao que quer que seja, mas uma ferramenta útil para algumas pessoas, um dos vários recursos de que podemos dispor para nos ajudar quer a esclarecer algum ponto, quer a perceber algo, quer a levar-nos a encetar uma investigação por conta própria sobre determinados assuntos ou práticas, quer simplesmente a proporcionar-nos alguns "cliques" que também podiam acontecer através de outras vivências, mas que às vezes, não se sabe porquê, acontecem é "naquela" altura.

Um abraço
Isabel Matos




gnanaatman escreveu:
> Ser vegetariano não é nem nunca será uma opção baseada na razão. Nunca
> ninguém alterará hábitos ancestrais através de uma argumentação lógica. E
> se alguém o fizer estará a fazer a coisa certa pelas razões erradas. Estará
> a fingir que é vegetariano e isso vai fazê-lo sentir-se muito infeliz e
> amargo com os não-vegetarianos. Será um infeliz com razão. Eu não quero ter
> razão, eu quero ser feliz. Ninguém será convertido em vegetariano depois de
> uma palestra de ética e ambientalismo. Não vale a pena andarmos a tentar
> convencer os outros com argumentação lógica. O respeito pela natureza e por
> todos os seres vivos não é uma questão de lógica ambientalista. É uma
> questão de consciência e amor-próprio. Só alguém com amor-próprio ama o
> está à sua volta. Só quando as pessoas sentirem que nós e o planeta somos
> um único ser indiferenciável, e quando abandonarem o seu comportamento
> suicida, passarão a respeitar a natureza. Sentir não é entender sob o ponto
> de vista intelectual. As pessoas vivem a matar-se a elas próprias e aos
> outros com o seu estilo de vida suicida. Como podem elas respeitar os
> bichos e o planeta que é apenas uma pedra gigante? Elevar a consciência não
> se consegue com dados estatisticos. Seria fácil resolver os problemas do
> mundo se assim fosse. O mundo não será salvo através da lógica e da razão.

(Por: Isabel Matos)

[Por: @ 2009-08-06, 11:07 | Responder | Imprimir ]

Re: Belo artigo

Há muitas pessoas que confrontadas com a violência com que tratamos as outras pessoas, os outros animais e o planeta em geral ficam absolutamente indiferentes. Há pessoas que concordam com a guerra, com a pena de morte e com a exploração dos povos mais pobres e no entanto não mudam a sua forma de pensar e agir quando confrontadas com as consequências assustadoras de tudo isto. Há pessoas que assistem à morte de animais e assistem ou participam nos testes em animais e continuam a achar que tudo está bem e tudo é normal. Há pessoas que envenenam o planeta diáriamente e acham que não há problema nisso. Há pessoas que se envenenam diáriamente com muitas e diversas drogas e acham que a vida é mesmo assim. Há muitas pessoas que não se desviam das suas rotinas mentais primitivas porque ainda não estão no momento certo para o fazer. As pessoas que estão preparadas para o fazer fazem-no. As pessoas que são sensíveis ao bem estar geral comportam-se de forma a que todos vivamos bem porque sabem que viver bem é uma qualidade colectiva. Para estas pessoas basta um pequeno clic para mudarem tudo na sua vida. Como podemos viver bem com tantas pessoas em sofrimento, tantos animais em sofrimento e com um planeta envenenado? Não há dinheiro que ensurdeça os gritos de dor de todo um planeta. Muitos de nós têm essa consciência e começaram já a fazer o que podem para alterar a tendência actual em nos auto-destruirmos. Eu também me vi um dia com um peixe vivo na mão e uma faca na outra. Houve um momento em que senti que o peixe me olhou com medo, e o que eu encontrei dentro dos olhos dele foi a mesma coisa, a mesma qualidade ou essência que sinto em mim e que encontro nos olhos de qualquer pessoa. Senti que matar um animal é como espetar um faca em mim mesmo e isso eu não faço. Descobri que não tenho mais essa violência em mim e deixo que as minhas escolhas surgam de forma autêntica e de acordo com a minha natureza. Nesta altura também já tinha decidido há muito não comer carne por razões semelhantes às suas. Não vou delegar cobardemente aos outros aquilo que eu não faço por achar que não deve ser feito e depois fazer de conta que o que tenho no prato é uma coisa qualquer que nasce nos supermercados. Muitos pais contam uma historinha destas às crinças para que as crianças não fiquem chocadas e comam tudo. Pois se os pais mentem às crianças é porque sabem que algo está errado em matar e comer animais, senão não mentiriam e não esconderiam das crianças o sangue que é jorrado para elas comerem o seu hamburger. Por isso tenho uma grande admiração pelas mães vegetarianas e que têm a coragem de não se deixar levar pela ignorância vigente que ainda controla as mentes de muitos doutores. Quando eu decidi deixar de fumar, porque começei a achar absurdo o que eu estava a fazer ao meu corpo, automaticamente comecei a polui menos e a ter mais cuidado com a natureza. O planeta é o nosso corpo alargado e temos que começar por respeitar-mo-nos a nós próprios e a entender como somos importantes e sagrados, depois a forma como tratarmos o resto do planeta vai ser um reflexo deste amor que sentimos por nós.

[Por: gnanaatman @ 2009-08-06, 17:04 | Responder | Imprimir ]





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