Fome da minha fome

Fome da minha fome,
sede da minha sede,
grito que no meu ecoa,
alma que sonhei,
ou vi.
 
És tu, senhora, a razão de tudo existir.
E mesmo morrendo,
és tu ainda o motivo.

Há depois os outros.
Amados uns outros negados.
Como a vida.
Mas são sombras apenas.
 
Ou não?
O amor que te tenho é colectivo.
A busca de ti foi afinal a de todos.
Com todos vivida.
O grito era imenso.
A palavra, transfigurada de luz,
não podia ser negada.
Muito menos esquecida.
Depois o espelho,
sempre do outro lado da rua,
na verdade da avenida.
Sempre a moldura do retrato
sobre a pedra da lareira na casa antiga.
Sempre os outros,
as suas sombras talvez mais que as suas vidas.
Ainda assim os outros.
 
Agora já não sei.
Vejo-te em tantos lugares.
Tornaste-te absoluta.
Não que te ame mais por isso.
Mas sinto-te.
De repente a aragem,
o mar sobre a praia, a luz.
Outra vez os outros.
O seu sorriso.
 
(João Crisóstomo)
7 de Setembro 2010

 



Copyright Centro Vegetariano. Reprodução permitida desde que indicando o endereço: http://www.centrovegetariano.org/literatura/index.php?print=1&article_id=620

Inserido em: 2010-11-19 Última actualização: 2010-11-19

Comentar printer     E-mail   Facebook F

Temas > Amor
Poemas





https://www.centrovegetariano.org/literatura/index.php?&article_id=620