Caroline Bergerot Caroline Bergerot

A Alimentação Vegetariana e a Saúde do Intestino

Caroline Bergerot é Nutricionista Clínica, autora de 23 livros sobre vegetarianismo e Directora de Saúde Nutricional da OSCIP Oca Brasil, onde desenvolve o Programa de Assistência Nutricional e Alimentar.
O Centro Vegetariano entrevistou-a a propósito do seu último livro “Câncer” e da relação entre a alimentação e o cancro colorrectal.

1. No seu livro Câncer destaca que a alimentação é preponderante no cancro colorrectal. Porquê?
As evidências científicas sugerem que um milhão de casos de câncer em seres humanos poderiam ser prevenidos em todo o mundo por alterações na alimentação, controle de peso, atividade física e abstenção de tabaco.
É comum uma pessoa comer um hambúrguer e achar que isso não é “comer carne”, ou então comer um peito de frango grelhado e dizer que “está” semivegetariana. É bom elucidar que existem estudos mostrando um possível aumento de risco de câncer pela formação de hidrocarbonetos aromáticos policiclicos e aminas heterocíclicas quando os métodos de cozimento de alta temperatura como grelhar, ferver, assar e defumar carnes são usados. Essas substâncias tóxicas são formadas durante a combustão do combustível carbono e na pirólise de proteína.
É visível o significativo aumento do consumo de produtos artificiais, produzidos com substâncias químicas que, embora muitas vezes saborosos, são vazios de nutrientes, e não trazem nenhum benefício ao organismo, somente calorias. Paralelamente, temos uma incidência de câncer colorretal, crescente, e com maiores proporções no ocidente, onde há um consumo mais elevado de alimentos prontos para consumo. São dados que obtemos com pesquisas e fatos concretos.
Quando se trata de câncer colorretal, temos como sintomas de impacto nutricional mais comuns o tempo maior de trânsito, diarréia, desidratação, timpanismo, cólicas e/ou gases, desequilíbrio de líquidos e eletrólitos, má absorção de vitaminas e minerais (vitaminas B12, sódio, potássio, magnésio, cálcio), saciedade precoce.
A nutrição é um componente importante não só na prevenção, como também no cuidado e tratamento de indivíduos com câncer avançado. É importante estar se aconselhando com um profissional e estudando cada caso particularmente.

2. Considera que uma alimentação vegetariana pode ajudar a evitar esse tipo de cancro? Porquê?
Sim, pode ajudar, porque toda a ação tem uma reação. Uma alimentação errada, mais dia menos dia, trará conseqüências. Para cada um uma reação, para cada organismo uma resposta. Analisar um caso de forma generalizada é difícil, mas de uma forma em geral, pessoas que optam por ser vegetariana, quase sempre procuram informações para se atualizarem e se alimentarem da melhor forma possível.
A alimentação denominada “normal”, hoje é carente em nutrientes, faz mal, não é correta, porém, quando falamos em dieta vegetariana, não estamos querendo nos referir a uma dieta radical, privada de prazeres, pratos gostosos e saborosos, na verdade é um nível de consciência a ser atingido. Claro que tem também a parte emocional envolvida em relação aos animais. Hoje temos bastante acesso ao processo dos alimentos e podemos ver o que passam os animais para se transformarem em alimento, mas, o mais fundamental, é o que estamos querendo para nosso organismo. Queremos saúde, disposição, beleza? Se sim, as pessoas com certeza devem rever seus conceitos de alimentação e fazer uma breve (breve por que não precisamos de muito para identificarmos nossos pontos mais fracos) retrospectiva em nossos hábitos – de vida e alimentares.
De nada adianta uma pessoa ser vegetariana, ou seja, retirar as carnes da alimentação, e até ovos, leites e laticínios, mas continuar atrás de produtos artificiais (balas, chicletes, refrigerantes, doces, excesso de frituras, etc), com abusos de farináceos no lugar de vitaminas e minerais.


3. Quais os nutrientes e alimentos a privilegiar numa alimentação preventiva ao cancro colorrectal?
Para quem quer prevenir o câncer colorretal citamos a vitamina C, o betacaroteno, a vitamina D, vitamina E, o cálcio e o selênio, como os nutrientes mais importantes. Todos estes nutrientes encontramos em frutas, legumes, verduras, ou seja, fontes vegetais.
Devemos ressaltar que as fibras são de fundamental importância e podemos encontrar nos alimentos integrais, frutas (sempre que possível com casca), legumes, folhosos, gérmen de trigo, farelo de trigo, farelo de soja.

4. Na sua opinião a carne está directamente relacionada com doenças intestinais? Em que medida é que é prejudical?
Descobriu-se que a grande ingestão de carne está associada a risco maior de câncer de cólon e câncer de próstata avançado e também que as dietas ricas em gordura tendem a ser mais ricas em calorias e contribuem para a obesidade, que por sua vez está associada a um risco maior de cânceres em vários locais, inclusive o cólon e o reto, o esôfago, a vesícula biliar, a mama, (entre mulheres na pós-menopausa), o endométrio, o pâncreas e o rim.
Uma série de estudos de observação e de controle de caso indica que as dietas ricas em fibra são associadas a um efeito protetor de câncer e de cólon; contudo o papel da genética deve também ser considerado. As ingestões maiores de vegetais foram associadas inversamente ao risco de câncer de cólon em um estudo de controle de caso.

5. Que dicas nutricionais pode sugerir para regularizar o intestino – especialmente para quem sofre de obstipação?
A constipação [obstipação] é uma das doenças intestinais mais comuns nas sociedades ocidentais, ela ocorre em 5% a mais de 25% da população, dependendo da definição do distúrbio. Para quem quer evitar a constipação, deve-se seguir algumas dicas básicas como: beber água em jejum e entre as refeições – pelo menos 2 litros por dia – consumir fibras solúveis e insolúveis, substituir o arroz branco pelo arroz integral, cortar drasticamente o açúcar branco e alimentos industrializados, evitar ao máximo refrigerantes. A quantidade recomendada de fibra dietética é cerca de 14g por 1.000kcal para as mulheres adultas, a dieta deve conter 25g de fibra diariamente, para os homens, cerca de 38g.
Para as pessoas que passam o dia fora de casa, recomendo tentar fazer uma das refeições maiores em casa (almoço ou jantar). Outra opção saudável é levar frutas (frescas ou secas) para o trabalho, comer barrinhas de cereais, nozes, castanhas, amêndoas e bolachas integrais, que podem ser feitas em casa.
Muito tempo sem se alimentar não faz bem, tanto quanto não parar de comer o dia inteiro, o ideal é fazer 6 refeições diárias (a cada 3 horas), balanceadas e equilibradas de acordo com a rotina de cada um, afinal há pessoas que precisam de uma quantidade maior de alimentos na parte da manhã, outros à tarde, outros à noite.
A alimentação deve ser rica em cenoura, frutas cítricas, crucíferas (repolho, brócolis, couve-flor, couve-de-Bruxelas), feijões, açúcar mascavo, abacate, castanha-do-pará (castanha-do-brasil), gérmen de trigo, avelãs, etc. Esses alimentos são ricos em nutrientes e fitoquímicos saudáveis e podem atuar como pré-bióticos para manter a microflora colônioca desejada.



Foto: Paulo Maluhy

Copyright Centro Vegetariano. Reprodução permitida desde que indicando o endereço: http://www.centrovegetariano.org/index.php?print=1&article_id=461

Inserido em: 2008-01-04 Última actualização: 2008-01-04

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