Não posso adiar o amor

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sol montanhas cinzentas

Não, não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século minha vida
nem meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração


António Ramos Rosa, Viagem através de Uma Nebulosa (1960)


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Inserido em: 2005-09-18 Última actualização: 1999-11-29

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