No século 21, parece que o veganismo finalmente se tornou bastante popular. Em todos os lugares que vamos, deve haver algo vegano para comer e os empregados de restaurante não acham estranho quando os clientes pedem comida vegana. Isso significa objetivo cumprido e portanto o fim do movimento vegano? Talvez não tão depressa.
Normalmente, existem quatro razões principais pelas quais as pessoas se tornam veganas: I) razões éticas; II) razões de saúde; III) razões ecológicas; e IV) razões espirituais.
Sobretudo nos últimos anos, o vegetarianismo é uma prática cada vez mais presente em Portugal, seja o ovo-lacto-vegetarianismo (que exclui da alimentação produtos primários de origem animal, como a carne e o peixe, mas mantém produtos secundários como o leite e os ovos), ou o vegetarianismo estrito (ou veganismo), um estilo de vida que exclui qualquer produto de origem animal, primário ou secundário, da alimentação, do vestuário e de todos os aspetos da vida diária. Há cada vez mais pessoas a retirar produtos de origem animal da sua alimentação, seja carne, peixe, leite ou outros.
Há uma ligação inquestionável entre o vegetarianismo e a cultura indiana. O conceito de não-violência (ahimsa, em sânscrito) foi um dos grandes motores por detrás da difusão do vegetarianismo pela religião, cultura, e culinária indiana.
O imperador Ashoka (século III AEC), depois de se converter ao budismo, foi um dos principais líderes políticos na Índia a promover o vegetarianismo e alguma legislação relacionada com os direitos dos animais. Não é claro, no entanto, se o próprio Buda (seja enquanto figura histórica ou lendária) terá sido estritamente vegetariano. Esta questão é debatida entre as diferentes tradições budistas.
Em geral é aceite que os primeiros humanóides eram principalmente recoletores, que sobreviveram com uma dieta baseada em plantas. Em seguida, evoluíram a arte da caça e começaram a comer quantidades cada vez maiores de carne. Embora esta não seja uma teoria consensual, é talvez indiscutível que os nossos antepassados viveram muito mais próximos da natureza do que os humanos modernos. E isso deve ser verdadeiro para possivelmente todas as civilizações da história humana conhecida. Respeitavam as paisagens naturais, os ciclos naturais do sol e da lua, as correntes e os ciclos da água e a vida em geral.
Filipe Ferro Calhau é licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É membro da direcção da APAEF - Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico, onde está disponível para dar formação em Individualogia.
É ainda investigador integrado no projeto “Perspetivas sobre a felicidade”, Contributos para Portugal no WHR (ONU) e foi conferencista na 5ª edição do Seminário de Estudos sobre a Felicidade, com o tema: "Ética a Nicómaco", realizado na Universidade Católica Portuguesa a 29 de maio de 2019. É também autor da obra “Ensaio sobre o Individualismo”, pela Chiado Editora, 2016, da obra “A Liberdade e os escravos”, pela Emporium Editora, 2018, (com uma resenha feita pelo doutor Jorge Humberto Dias, publicada numa Revista Internacional de Filosofia Aplicada, Haser) e das obras “Individualogia” (com prefácios do doutor Jorge Humberto Dias e do doutor Joaquim Parra Marujo), “Filosofia e felicidade”, “Poesia Individualista”, “Ontem morri” e “Filosofia aplicada à consciência e felicidade” pela Chiado Publishers, 2019 e 2020.
Publicou também a obra "Filosofia da ignorância", Mikelis, 2020. Tem um canal de filosofia no YouTube com quase 500 vídeos publicados.